Quem se aproxima de Vila Estância Nova pode chegar até a Penitenciária Estadual de Venâncio Aires (Peva) com os olhos fechados. é só ter um bom faro que será guiado pelo cheiro do esgoto que sai da casa prisional. A Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) não funciona como deveria e tudo o que sai das quatro galerias e demais repartições escoa por uma valeta e vai direto para a Sanga das Mulas. Moradores reclamam e o caso chegou à Câmara de Vereadores.

O problema existe desde que a Peva começou a receber presos, em março de 2015. A ETE nunca funcionou com o propósito a que foi construída – de tratar os degetos e devolver à natureza uma água tratada – e os problemas só aumentaram. E mesmo com a notificação feita pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) não tomou nenhuma medida e o esgoto segue contaminando o solo e o arroio que passa pela localidade.
Preocupado, o juiz João Francisco Goulart já determinou a interdição da casa prisional, para que medidas fossem adotadas, mas a Justiça mandou a direção voltar a receber presos. Artêmio Rossi, diretor da penitenciária e que está em processo de aposentadoria, encaminhou o caso ao setor de engenharia da Susepe e pediu providências, mas o esgoto continua a céu aberto e o mau cheiro já faz parte da rotina de quem mora, passa ou visita aquela localidade.
Quem se aproxima da penitenciária, é ‘presenteado’ com o esgoto escoando pelas margens da estrada. E quem, por acaso, chegar perto da ETE, que se localiza na parte externa da casa prisional, vai se deparar com o esgoto inundando toda aquela área.
Sexta-feira pela manhã, dois funcionários da empresa Verdi Sistemas Construtivos S.A., de Porto Alegre, responsável pela construção da penitenciária, estiveram na casa prisional. Segundo Rossi, fizeram apontamentos, procuraram as falhas e fotografaram a área interna e externa da Peva. O levantamento será apresentado aos engenheiros da empresa, que prometeu fazer um projeto para que os resíduos sólidos – principalmente restos de comida – não cheguem a ETE, como acontece hoje.
Estes degetos, juntamente com peças de roupas, segundo a empresa, são os responsáveis por impedir que a ETE funcione corretamente. Boa parte do esgoto não é tratado e foi ‘desviado’ para que não retorne para dentro das celas. Por isso, escoa a céu aberto e provoca o mau cheiro.
ERA CLARINHAUma das principais prejudicadas com a contaminação da Sanga das Mulas é a família de Rosilei Inês Weschenfelder da Silva. A viveirista, de 42 anos, mora em uma propriedade lindeira à sanga, às margens da RSC-287. Ela recorda que a água sempre foi limpa e era comum reunir os sobrinhos para fazer um piquenique ou um churrasco às margens do arroio.
Outra atividade prazeirosa e que não é realizada desde que a penitenciária começou a funcionar, são os banhos na sanga. “Era comum vir aqui para molhar os pés. As crianças adoravam, pois era razinho e muito limpo. Víamos as pedrinhas no fundo. Agora não dá vontade de chegar perto. A água é imunda e o cheiro de esgoto, muito forte”, denuncia.
Outro que lamenta o estado da água é um agricultor de 45 anos. Há 15 anos ele trabalha em uma propriedade vizinha à penitenciária e reclama da contaminação da água e principalmente do mau cheiro. Todos os degetos que saem da Peva passam pela propriedade onde ele trabalha e deságuam na Sanga das Mulas.
Segundo o agricultor, ele trabalha com o comércio de mudas nativas e exóticas, todas cultivadas só com material orgânico. “E agora temos que conviver com este esgoto, que está contaminando toda a água daqui e que vai para o Castelhano e depois para o rio Taquari”, salienta.Ele recorda que antes da penitenciária começar a funcionar, era comum ir até a sanga para pescar. “Pegava muitos jundiás e lambaris. Mas agora não tem mais nada aqui”, lamenta.
MOçãOA denúncia dos moradores chegou à Câmara de Vereadores. Na sessão da segunda-feira, 9, o vereador Ezequiel Stahl expôs o problema e comunicou que fez uma ‘Moção de Apelo’. “Mas minha intenção não é apenas enviar este pedido aos destinatários, é também de mobilizar o Poder Judiciário e a OAB local, pois a situação é critica e deve ser resolvida o mais breve possível”, disse.